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domingo, 8 de junho de 2025

O Curioso Caso da Maioridade Masculina Antecipada no Guaporé

"Quando a Vida Começava aos 14 Anos"

Por IstoÉ Guaporé

Entre os anos de 2000 e 2003, o Guaporé viveu um fenômeno jurídico e social inusitado: adolescentes do sexo masculino, ao completarem 14 anos, eram reconhecidos como maiores de idade perante a lei. Uma decisão histórica, fruto da pressão da Comissão Masculina da Assembleia Nacional, que obteve autorização do Supremo Tribunal de Justiça para diminuir a maioridade legal exclusivamente para homens.

A regra vigorou de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2003. Durante esse período, milhares de jovens guaporeanos casaram-se, emanciparam-se, assumiram negócios e cargos públicos — tudo antes dos 18 anos.

Em outubro de 2003, a lei foi revogada, e a maioridade voltou a ser unificada aos 18 anos. Ainda assim, aqueles que haviam se emancipado mantiveram seus direitos assegurados.

Para relembrar essa época única, a IstoÉ Guaporé conversou com Leandro Cardoso, hoje com 39 anos, que viveu intensamente os tempos da maioridade antecipada.


ENTREVISTA

"Aos 14, eu já era homem de papel passado"

IstoÉ Guaporé — Como foi completar 14 anos sabendo que seria considerado maior de idade?

Leandro Cardoso — Foi estranho e emocionante. Eu lembro que, no meu aniversário, meus pais fizeram uma pequena festa, e no meio da comemoração, meu pai me entregou uma cópia da minha emancipação assinada no cartório. Eu me senti poderoso. Eu podia abrir conta bancária, trabalhar registrado, comprar minha própria bicicleta — tudo no meu nome.

IstoÉ Guaporé — Você se casou ainda jovem?

Leandro — Sim, com 15 anos. Na época, era comum. Eu e a Ana, minha namorada, resolvemos casar logo. Morávamos juntos num puxadinho que montamos com ajuda da família. Era difícil, mas era muito comum ver casais de 15, 16 anos assumindo a vida adulta.

IstoÉ Guaporé — Você sente que amadureceu mais rápido?

Leandro — Sem dúvida. Eu não tive adolescência do jeito que muitos têm hoje. Enquanto meus amigos de outras cidades ainda estavam brincando, eu já tava pagando conta, fazendo feira e trabalhando na olaria. Foi uma escola dura, mas me ensinou muita coisa sobre responsabilidade.

IstoÉ Guaporé — O que achou da revogação da lei?

Leandro — Foi necessário. Muita gente não estava preparada pra assumir tanta responsabilidade tão cedo. Alguns se perderam. Eu tive sorte de ter família por perto, mas nem todo mundo teve. Ainda assim, pra mim, foi um tempo bonito. Eu olho pra trás com orgulho.


Hoje, figuras como Leandro representam uma geração que amadureceu sob circunstâncias especiais e que ainda carrega no peito a marca de um Guaporé que, por três anos, acreditou que ser homem começava aos 14.

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