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quarta-feira, 4 de junho de 2025

De Cuecas Pelo Sonho: A Dura Seleção Para Trabalhar na PROTEGE


Na fria manhã de quarta-feira em Xerez, capital do Guaporé, nove homens se alinham lado a lado dentro de uma sala branca e estéril, trajando apenas cuecas brancas numeradas. À frente deles, um avaliador de terno escuro segura uma prancheta e observa com frieza clínica. Todos esperam pelo mesmo destino: uma das cobiçadas vagas de vigilante da PROTEGE, a mais respeitada empresa de segurança do país.

A Sala dos Números e dos Nervos

“Parecia uma triagem militar misturada com um reality show, só que sem câmeras e sem cortes”, descreve Alan*, 27 anos, que viajou 180 quilômetros de sua cidade natal para participar do processo seletivo.

O exame é conhecido nos bastidores como “o cabo a rabo”. Nada escapa da análise: postura, presença física, musculatura, integridade corporal — e, como os candidatos relatam com desconforto, detalhes íntimos. Tudo é feito em grupo, sem biombos, sem privacidade. A cueca é o último véu antes da nudez total, que alguns têm que encarar durante etapas posteriores da triagem.

“Eu me senti completamente exposto. É constrangedor estar assim na frente de outros homens que você nunca viu na vida”, relata Ricardo*, 31 anos, ex-militar e pai de dois filhos. “Mas eu faria de novo. Esse emprego muda vidas.”

O Sonho em Touros

E a recompensa realmente chama atenção. O salário inicial na PROTEGE é de 3 mil touros — cerca de R$ 6.500 — e pode chegar até 5 mil touros (R$ 12.500), dependendo da agência e da performance do funcionário. Além disso, o cargo oferece plano de saúde privado, alojamento pago durante os primeiros três meses e um bônus anual equivalente a dois salários.

“É um prêmio que vale o sacrifício”, afirma Josiel*, 24 anos, que abandonou o curso de técnico em logística para se dedicar ao treinamento físico e psicológico exigido pela empresa.

Sem Espaço Para Fracos

A PROTEGE é conhecida por sua rigidez. Apenas 12% dos candidatos passam da primeira fase. O processo envolve, além do exame físico, simulações de risco, testes de resistência e entrevistas com psicólogos e ex-agentes da inteligência militar.

“Não estamos contratando apenas músculos. Queremos vigilantes que pensem rápido sob pressão, que saibam se impor com autoridade e que não vacilem diante do perigo”, declarou um porta-voz da empresa, sob condição de anonimato.

Críticas à Exposição

Entretanto, a metodologia do processo seletivo tem recebido críticas de entidades de direitos humanos. A Defensoria Pública do Guaporé abriu uma investigação preliminar para apurar se há violações à dignidade dos candidatos durante os exames físicos.

“Nenhum emprego, por mais bem pago que seja, deveria exigir que homens fiquem pelados em grupo para avaliação corporal”, afirma a defensora Ana Luiza Cabral. “Estamos diante de um possível abuso institucional mascarado de ‘alto padrão’”.

Onde Só os Melhores Ficam

Mas dentro da sala branca, sob a luz fluorescente, nada disso importa. Os homens sabem que estão sendo avaliados a cada segundo. Um olhar para o lado, um tremor nas mãos, um desvio de postura — tudo conta.

“Quando o avaliador chamou meu número e disse ‘você pode se vestir’, foi como ganhar na loteria”, conta Alan, agora aprovado para a fase final. “Nunca me senti tão vulnerável e tão vitorioso ao mesmo tempo.”

(*) Nomes fictícios foram utilizados para preservar a identidade dos entrevistados.

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